quarta-feira, outubro 28, 2009

Espaços

Era noite escura, tão escura que não se via nada. viam-se pessoas, carros, cães, gatos... mas nada não se via. Nas ruas, as pessoas passavam umas pelas outras sem falar. Contudo acenavam umas às outras e as outras nem ligavam os carros pois com a pressa, com a persistência e vontade consegue ter-se tudo.
Nos bares e cafés, as pessoas tomavam café, tomavam aspirinas, tomavam comprimidos para o enjoo e comprimidos para dormir porque no fim de mais uma noite amanhace sempre mais um dia.
Eram horas de trabalhar de novo, porque trabalhar de velho é coisa que não dá rendimento pois a idade não tem piedade. Nem piedade nem outra coisa qualquer tal é o egoísmo que dia após dia porque se não fosse assim haveria graves problemas com os calendários.
Trabalhar para ganhar o pão, o vinho, o tabaco, as revistas, os DVD's virgem que tiramos da net sem parar para tomar um antibiótico para as anginas de peito de frango assado.
Finalmente, o almoço que casou com a almoça e tiveram pequenos-almoços e viveram uma felicidade sem limites, sem dinheiro, sem casa para viver ou jazigo para morrer.
E a tarde que não passa, logo hoje que tanto precisava de lhe falar. Deve ter sido a sua mãe que não a deixa sair de casa.
Chegou ao fim mais um dia de trabalho. Fiz-lhe o enterro, coitado, não tinha família. Chorámos o que pudemos e o que não pudemos guardámos num tupperware no frigorífico para outro dia, porque a vida não está para desperdícios, nem para ninguém, diz que está cansada, doi-lhe a cabeça.
E é assim, mais ou menos deste tamanho, que as coisas são, embora haja algumas um pouco maiores, tais como os alfinetes de dama e os clips.
Chega-se a casa e é todos os dias o mesmo cabide onde penduro o casaco, o sofá, a televisão, tudo sempre no mesmo sítio...
Bolas... que droga... que droga... sempre o mesmo dilema. Drogas leves ou parto já para as pesadas... Tanto mais que tenho estadia paga lá para duas pessoas.
Mas partir, assim, sem cuidados não me seduz... os cortes e os ferimentos... Infecções e a sida que obriga a cuidados com os parceiros. Pelo menos, à sueca que é um jogo difícil e qualquer parceiro não serve.
Escureceu tanto que parece noite...

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